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Renda Fixa

Títulos privados: debêntures, CRI, CRA e o risco de crédito na prática

19 de agosto de 2025•10 min de leitura

Quando você vê um CDB pagando CDI + 2% e uma debênture pagando CDI + 5%, a primeira pergunta que deveria vir na cabeça é: por que essa diferença? A resposta é simples: risco de crédito. Vou te explicar como funcionam esses títulos privados e como avaliar se vale a pena arriscar mais.

O que são títulos privados?

Diferente do Tesouro Direto (onde você empresta pro governo), nos títulos privados você empresta dinheiro para empresas. E empresas podem quebrar — por isso pagam juros maiores.

Os três principais tipos são:

  • Debêntures: empresas captam dinheiro para projetos diversos
  • CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários): lastreados no setor imobiliário
  • CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio): lastreados no agronegócio

Debêntures: emprestando para empresas

Quando você compra uma debênture, está emprestando dinheiro para uma empresa em troca de juros. É como se a empresa emitisse um "boleto gigante" que ela vai te pagar com juros no futuro.

Características das debêntures:

  • Rentabilidade: geralmente CDI + X% ou IPCA + X%
  • Prazo: médio a longo (2 a 10 anos)
  • Liquidez: baixa (difícil vender antes do vencimento)
  • Garantias: podem ter garantias reais, flutuantes ou quirografárias (sem garantia)
  • FGC: NÃO têm cobertura do FGC
  • IR: tabela regressiva (15% a 22,5%)

Debêntures incentivadas:

Algumas debêntures de infraestrutura (energia, saneamento, transporte) são isentas de IR. Isso faz toda a diferença na rentabilidade líquida.

Exemplo: uma debênture incentivada pagando IPCA + 6% isenta rende o mesmo líquido que IPCA + 7,06% com IR de 15%.

CRI e CRA: lastreados em recebíveis

CRI e CRA são títulos lastreados em recebíveis — ou seja, em direitos de crédito que alguém tem a receber.

CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários)

Lastreado em créditos do setor imobiliário. Exemplo: uma construtora vendeu apartamentos a prazo. Ela pega esses recebíveis futuros e securitiza (transforma em um título que você pode comprar).

  • Isento de IR para pessoa física
  • Não tem cobertura do FGC
  • Risco: inadimplência dos compradores dos imóveis
  • Rentabilidade típica: CDI + 2% a CDI + 5%

CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio)

Mesma lógica do CRI, mas lastreado no agronegócio. Exemplo: um produtor rural vendeu soja a prazo. Esses recebíveis viram um CRA.

  • Isento de IR para pessoa física
  • Não tem cobertura do FGC
  • Risco: inadimplência dos compradores + riscos do agro (clima, preço das commodities)
  • Rentabilidade típica: CDI + 2% a CDI + 6%

O que é risco de crédito?

Risco de crédito é a chance de quem te deve não pagar. No Tesouro Direto, esse risco é praticamente zero (governo sempre pode imprimir dinheiro). Mas empresas podem quebrar.

Por isso, quanto maior o risco, maior a rentabilidade oferecida. É o mercado cobrando um prêmio de risco.

Exemplo prático:

CDB do Banco do Brasil: CDI + 1% (risco baixíssimo)
Debênture de uma empresa pequena: CDI + 5% (risco maior)

Esses 4% de diferença são o prêmio que você recebe por aceitar mais risco.

Como avaliar o risco: o papel do rating

Para ajudar você a avaliar o risco, existem agências de classificação de risco (rating). Elas analisam a saúde financeira da empresa e dão uma nota:

RatingClassificaçãoO que significa
AAA, AABaixíssimo riscoEmpresas sólidas, pouquíssima chance de calote
A, BBBBaixo riscoEmpresas boas, risco controlado
BB, BRisco moderadoEmpresas com mais dívidas ou em setores voláteis
CCC, CC, CAlto riscoEmpresas com dificuldades, risco elevado de calote
DDefaultJá deu calote

Atenção: rating não é garantia absoluta. Empresas com bom rating já quebraram (Lehman Brothers, Samarco). Mas é uma ferramenta importante.

Casos reais de calote

Pra você entender que o risco é real, vou citar exemplos de calotes que aconteceram no Brasil:

  • Oi (2016): maior recuperação judicial da história brasileira. Quem tinha debêntures perdeu muito dinheiro.
  • Petrobras (sustos recorrentes): embora não tenha dado calote, teve momentos de risco elevado.
  • CRIs de construtoras: várias construtoras quebraram e CRIs viraram pó.

Por isso, diversificação é fundamental. Não coloque tudo em um único emissor.

Como avaliar se vale a pena o risco

Eu uso essas perguntas com meus clientes:

Checklist de avaliação:

  • ✓Qual o rating? Abaixo de BBB, o risco aumenta muito. Você aceita isso?
  • ✓Qual o spread sobre o CDI? Se for muito alto (CDI + 7%, por exemplo), desconfie. O mercado está vendo muito risco.
  • ✓Qual o setor? Setores cíclicos (varejo, construção civil) têm mais risco que setores essenciais (energia, saneamento).
  • ✓Tem garantias? Debêntures com garantias reais são mais seguras.
  • ✓Quanto do meu patrimônio vou colocar? Nunca mais de 5-10% em um único emissor de risco moderado/alto.

Exemplo de comparação prática

Imagine que você tem R$ 50.000 para investir. Veja as opções:

InvestimentoRentabilidadeRiscoPara quem?
Tesouro Selic100% da SelicBaixíssimoConservadores, reserva
CDB grande bancoCDI + 1%BaixoConservadores
LCI/LCA95% CDI (isento IR)BaixoConservadores a moderados
Debênture AAACDI + 3%ModeradoModerados
CRI/CRA BBBCDI + 4% (isento IR)Moderado a altoModerados a arrojados

Estratégia recomendada: diversifique. Não coloque todo o dinheiro em um só tipo. Combine segurança com oportunidade.

Quando vale a pena arriscar mais

Eu recomendo títulos privados de maior risco apenas se você se encaixa nisso:

  • Já tem reserva de emergência montada
  • Não vai precisar desse dinheiro no curto prazo (mínimo 3 anos)
  • Está confortável com a possibilidade de perda (mesmo que baixa)
  • Entende o produto e a empresa emissora
  • Vai diversificar entre vários emissores

Se você marcou "sim" em todos, pode considerar alocar uma parte (10-20%) em títulos privados de maior risco/rentabilidade.

Perguntas frequentes

1. CRI e CRA são mais seguros que debêntures por serem isentos de IR?

Não. A isenção de IR não tem relação com segurança — é só um benefício fiscal. CRI/CRA podem ser tão ou mais arriscados que debêntures. Sempre olhe o rating e o emissor.

2. Posso vender antes do vencimento?

Tecnicamente sim, mas a liquidez é baixíssima. Você provavelmente terá que vender com desconto (perder dinheiro) ou simplesmente não encontrar comprador. Por isso, só invista o que não vai precisar.

3. Vale mais a pena CRI/CRA ou LCI/LCA?

LCI/LCA têm cobertura do FGC e geralmente são de bancos maiores (menor risco). CRI/CRA podem pagar mais, mas não têm FGC. Se você é conservador, prefira LCI/LCA. Se aceita mais risco, CRI/CRA podem valer a pena.

Conclusão: rentabilidade maior vem com risco maior

Títulos privados são uma excelente forma de buscar rentabilidade acima da renda fixa tradicional. Mas você precisa entender que está assumindo risco de crédito — a empresa pode não pagar.

Minha recomendação: use títulos privados como complemento, não como base. Tenha sua base segura (Tesouro, CDBs de grandes bancos) e use uma parte menor para buscar rentabilidades maiores em títulos privados de qualidade (rating bom, empresas sólidas).

E sempre, sempre diversifique. Não coloque tudo em um único emissor. Se você quer entender melhor sobre diversificação, leia meu post sobre o assunto.

Quer ajuda para avaliar títulos privados?

Se você está em dúvida sobre qual debênture, CRI ou CRA investir, ou quer entender melhor o risco de crédito do seu portfólio, me chama no WhatsApp. Vou te ajudar a avaliar.

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Adriano Freire
Sobre o autor

Adriano Freire

Financial Advisor

Assessor de Investimentos credenciado pela Ancord, atuando através da Autem Investimentos, escritório parceiro do BTG Pactual.

Meu trabalho é ajudar você a investir com clareza, estratégia e disciplina. Acredito que educação financeira vem primeiro — por isso escrevo de forma direta, sem jargão, e sempre mostrando os dois lados da moeda.

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Assessoria de investimentos transparente e educacional.

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