Rebalanceamento de carteira: quando e como ajustar seus investimentos
Você montou sua carteira de investimentos com 70% em renda fixa e 30% em ações. Passou um ano. As ações subiram muito e agora representam 50% da carteira. O que fazer? É aí que entra o rebalanceamento. Vou te explicar quando e como fazer isso sem complicação.
O que é rebalanceamento de carteira?
Rebalanceamento é o processo de ajustar sua carteira para voltar à alocação original (ou à alocação desejada). É como "arrumar a casa" dos seus investimentos.
Por que isso é importante? Porque com o tempo, alguns investimentos crescem mais que outros. Sua carteira fica desbalanceada e você acaba assumindo mais (ou menos) risco do que planejou.
Exemplo prático: você começou com R$ 100.000 assim:
- R$ 70.000 em renda fixa (70%)
- R$ 30.000 em ações (30%)
Depois de 1 ano, as ações subiram 40% e a renda fixa rendeu 12%. Agora você tem:
- R$ 78.400 em renda fixa (65%)
- R$ 42.000 em ações (35%)
Sua carteira saiu de 70/30 para 65/35. Parece pouco, mas se você não rebalancear, daqui alguns anos pode estar 50/50 ou até 40/60 — muito mais arriscado do que você planejou.
Por que rebalancear?
Rebalancear tem 3 benefícios principais:
1. Controla o risco
Quando você não rebalanceia, os ativos mais arriscados (ações, por exemplo) tendem a crescer mais e dominar sua carteira. Você acaba assumindo mais risco do que planejou.
Exemplo: você planejou 30% em ações porque esse é seu limite de risco. Se as ações crescem e viram 50% da carteira, você está assumindo 67% mais risco do que planejou.
2. Força você a "comprar na baixa e vender na alta"
Rebalancear significa vender o que subiu demais e comprar o que caiu. É o oposto do que a maioria faz (comprar na euforia e vender no pânico).
Exemplo: as ações subiram muito e viraram 50% da carteira. Você vende um pouco de ações (que estão caras) e compra renda fixa (que está mais barata proporcionalmente). Quando as ações caírem, você já terá vendido no topo.
3. Mantém você disciplinado
Rebalancear te obriga a seguir um plano. Você não toma decisões baseadas em emoção — você segue a estratégia que definiu lá no começo.
Rebalancear funciona?
Estudos mostram que carteiras rebalanceadas periodicamente têm retornos similares às não rebalanceadas, mas com MENOS RISCO. Ou seja: você ganha o mesmo com menos volatilidade.
Fonte: Vanguard Research - "Best practices for portfolio rebalancing"
Quando rebalancear?
Existem duas estratégias principais:
1. Rebalanceamento por tempo (calendário)
Você rebalanceia em intervalos fixos: a cada 6 meses, 1 ano, etc.
Vantagens:
- Simples de implementar
- Você não precisa ficar monitorando a carteira
- Evita rebalancear demais (custos de IR e corretagem)
Desvantagens:
- Pode rebalancear quando não é necessário
- Pode não rebalancear quando é necessário (se o mercado oscilar muito entre os intervalos)
Recomendação: rebalancear a cada 12 meses é o mais comum. É um bom equilíbrio entre disciplina e custos.
2. Rebalanceamento por percentual (threshold)
Você rebalanceia quando a alocação se desviar X% do planejado. Por exemplo: se a alocação mudar mais de 5 pontos percentuais, você rebalanceia.
Exemplo: sua meta é 70% renda fixa e 30% ações. Você rebalanceia se a alocação sair da faixa 65-75% (renda fixa) ou 25-35% (ações).
Vantagens:
- Você só rebalanceia quando realmente precisa
- Captura melhor as oportunidades (compra na baixa, vende na alta)
Desvantagens:
- Exige monitoramento constante
- Pode gerar mais custos (IR e corretagem) se o mercado oscilar muito
Recomendação: use um threshold de 5 pontos percentuais. É o mais comum e evita rebalancear demais.
Qual estratégia eu uso?
Eu combino as duas: rebalanceio a cada 12 meses OU quando a alocação se desviar mais de 5 pontos percentuais. O que vier primeiro.
Isso me dá disciplina (rebalanceio pelo menos 1x por ano) e flexibilidade (rebalanceio antes se o mercado oscilar muito).
Como rebalancear na prática?
Existem 3 formas de rebalancear:
1. Vendendo e comprando (rebalanceamento ativo)
Você vende o que cresceu demais e compra o que caiu. É a forma mais direta.
Exemplo: sua carteira está 65% renda fixa e 35% ações. Você quer voltar para 70/30. Você vende R$ 6.000 de ações e compra R$ 6.000 de renda fixa.
Atenção: vender ações gera Imposto de Renda (15% sobre o lucro). Considere isso no cálculo.
2. Usando novos aportes (rebalanceamento passivo)
Em vez de vender, você usa os novos aportes para comprar o que está abaixo do peso. É a forma mais eficiente (não gera IR).
Exemplo: sua carteira está 65% renda fixa e 35% ações. Você quer voltar para 70/30. Você aporta R$ 10.000 TODO em renda fixa. Isso aumenta o peso da renda fixa sem vender ações.
Vantagem: não paga IR. É a forma mais eficiente.
Desvantagem: só funciona se você tiver aportes regulares. Se você não aporta, precisa vender.
3. Combinando as duas
Você usa novos aportes sempre que possível. Quando não for suficiente, você vende e compra.
Recomendação: essa é a melhor estratégia. Você minimiza o IR e mantém a carteira balanceada.
Exemplo prático completo
Vou te mostrar um exemplo completo de rebalanceamento:
Situação inicial (janeiro de 2024)
- Patrimônio: R$ 100.000
- Alocação desejada: 70% renda fixa, 30% ações
- Renda fixa: R$ 70.000 (70%)
- Ações: R$ 30.000 (30%)
Situação após 1 ano (janeiro de 2025)
- Renda fixa rendeu 12%: R$ 70.000 → R$ 78.400
- Ações subiram 40%: R$ 30.000 → R$ 42.000
- Patrimônio total: R$ 120.400
- Alocação atual: 65% renda fixa, 35% ações
Rebalanceamento
Você quer voltar para 70/30. Veja como fazer:
- Meta renda fixa: R$ 120.400 × 70% = R$ 84.280
- Meta ações: R$ 120.400 × 30% = R$ 36.120
- Você precisa: vender R$ 5.880 de ações e comprar R$ 5.880 de renda fixa
Custos
Você comprou as ações a R$ 30.000 e agora valem R$ 42.000. Lucro: R$ 12.000.
Você vai vender R$ 5.880 de ações. Proporcionalmente, o lucro é: R$ 5.880 × (R$ 12.000 / R$ 42.000) = R$ 1.680.
IR: R$ 1.680 × 15% = R$ 252.
Resultado: você paga R$ 252 de IR para rebalancear. Vale a pena? Sim, porque você está controlando o risco e seguindo sua estratégia.
Alternativa: rebalancear com aportes
Se você aporta R$ 2.000 por mês, pode usar os aportes para rebalancear sem vender:
- Você precisa aumentar a renda fixa em R$ 5.880
- Você aporta R$ 2.000/mês TODO em renda fixa por 3 meses = R$ 6.000
- Pronto! Você rebalanceou sem pagar IR
Checklist: como rebalancear sua carteira
- ✓Defina sua alocação desejada (ex: 70% renda fixa, 30% ações)
- ✓Escolha uma estratégia: por tempo (12 meses) ou por percentual (5 pontos)
- ✓Calcule a alocação atual da sua carteira
- ✓Se a alocação se desviou, rebalanceie usando novos aportes (se possível)
- ✓Se não tiver aportes, venda o que cresceu e compre o que caiu
- ✓Considere o IR no cálculo (15% sobre o lucro ao vender ações)
Perguntas frequentes
1. Com que frequência devo rebalancear?
A cada 12 meses é o mais comum. Rebalancear com mais frequência gera custos (IR e corretagem) sem benefício adicional. Rebalancear com menos frequência deixa sua carteira desbalanceada por muito tempo.
2. E se eu não tiver dinheiro para aportar?
Você precisa vender o que cresceu e comprar o que caiu. Sim, vai pagar IR. Mas é melhor pagar IR e manter sua carteira balanceada do que deixar o risco fugir do controle. Pense no IR como o "custo de manter a disciplina".
3. Preciso rebalancear se minha carteira está indo bem?
Sim! Rebalancear não é sobre "ir bem" ou "ir mal". É sobre manter o risco sob controle. Se as ações subiram muito, você está assumindo mais risco do que planejou — mesmo que esteja ganhando dinheiro. Rebalancear te protege de uma queda futura.
Conclusão
Rebalanceamento é uma das práticas mais importantes para quem investe no longo prazo. Ele controla o risco, força você a comprar na baixa e vender na alta, e mantém você disciplinado.
Não precisa ser complicado. Defina sua alocação desejada, escolha uma estratégia (12 meses ou 5 pontos percentuais) e rebalanceie usando novos aportes sempre que possível.
Lembre-se: diversificação sem rebalanceamento não funciona. É o rebalanceamento que mantém sua carteira alinhada aos seus objetivos.
Quer ajuda para rebalancear sua carteira?
Me chama no WhatsApp. Vou te ajudar a calcular sua alocação atual e montar um plano de rebalanceamento eficiente.
Falar com Adriano
Adriano Freire
Financial Advisor
Assessor de Investimentos credenciado pela Ancord, atuando através da Autem Investimentos, escritório parceiro do BTG Pactual.
Meu trabalho é ajudar você a investir com clareza, estratégia e disciplina. Acredito que educação financeira vem primeiro — por isso escrevo de forma direta, sem jargão, e sempre mostrando os dois lados da moeda.

