Investimentos no exterior: por que, como e quando diversificar internacionalmente
Muita gente me pergunta: "Adriano, preciso investir no exterior?" A resposta curta é: não é obrigatório, mas faz sentido para muitos investidores. Neste artigo, vou te explicar por que diversificar internacionalmente, como fazer isso de forma prática e quanto alocar.
Por que investir no exterior?
Investir fora do Brasil não é sobre falta de confiança no país — é sobre diversificação inteligente. Veja os principais motivos:
1. Diversificação geográfica
Se você tem 100% do seu patrimônio no Brasil, está exposto a riscos específicos do país: crise política, econômica, cambial. Quando você diversifica internacionalmente, protege parte do seu patrimônio desses riscos locais.
Exemplo prático: em 2020, quando a pandemia começou, a bolsa brasileira caiu mais de 40% em poucos meses. Quem tinha parte dos investimentos nos EUA sofreu menos, porque o S&P 500 se recuperou muito mais rápido.
2. Proteção cambial
Quando você investe no exterior (ou em ativos atrelados ao dólar), você se protege da desvalorização do real. Se o dólar sobe, seus investimentos internacionais valem mais em reais.
Exemplo: se você investiu US$ 1.000 quando o dólar estava a R$ 5,00 (R$ 5.000) e agora o dólar está a R$ 6,00, seu investimento vale R$ 6.000 — mesmo que a aplicação não tenha rendido nada em dólar.
3. Acesso a empresas globais
Muitas das maiores e melhores empresas do mundo não estão na bolsa brasileira: Apple, Microsoft, Amazon, Nvidia, Tesla. Investir no exterior te dá acesso a essas companhias.
4. Moedas fortes
Dólar, euro e outras moedas fortes tendem a ser mais estáveis que o real. Ter parte do patrimônio em moeda estrangeira é uma forma de proteção de longo prazo.
Importante: não é fuga de capital
Investir no exterior de forma legal e declarada não é "tirar dinheiro do Brasil". É estratégia de diversificação — assim como você diversifica entre ações e renda fixa, diversifica também entre países.
Como investir no exterior do Brasil?
Existem basicamente quatro formas de se expor ao mercado internacional sem sair do Brasil:
1. BDRs (Brazilian Depositary Receipts)
BDRs são certificados negociados na B3 que representam ações de empresas estrangeiras. É como comprar uma ação brasileira, mas você está investindo em uma empresa internacional.
- Vantagem: simplicidade — você compra pela mesma corretora que usa para ações brasileiras
- Desvantagem: custos embutidos, nem todas as empresas têm BDR, menor liquidez
- Tributação: 15% de IR sobre ganho de capital (sem isenção para vendas até R$ 20 mil)
Exemplo: você pode comprar AAPL34 (Apple), MSFT34 (Microsoft), AMZO34 (Amazon) pela B3.
2. ETFs internacionais
ETFs são fundos que replicam índices. Existem ETFs brasileiros que investem em índices internacionais, como o IVVB11 (S&P 500) e o WRLD11 (índice global).
- Vantagem: diversificação instantânea, baixo custo, liquidez diária
- Desvantagem: taxas de administração, câmbio embutido
- Tributação: 15% de IR sobre ganho de capital, sem come-cotas
3. Fundos de investimento internacionais
São fundos de investimento brasileiros que alocam recursos no exterior. Podem ser ativos (gestor escolhe ativos) ou passivos (seguem um índice).
- Vantagem: gestão profissional, acesso facilitado
- Desvantagem: taxas de administração mais altas, come-cotas semestral
- Tributação: tabela regressiva (15% a 22,5%) + come-cotas
4. Conta no exterior (diretamente)
Você pode abrir uma conta em uma corretora americana (Interactive Brokers, TD Ameritrade, etc.) e comprar ações e ETFs diretamente lá fora.
- Vantagem: acesso total ao mercado americano, custos menores, dividendos em dólar
- Desvantagem: mais burocracia, precisa declarar no IR, remessa de dólar tem custos
- Tributação: 15% de IR sobre ganho de capital (isento até US$ 35 mil de venda/mês), 30% de IR retido na fonte sobre dividendos
Qual forma escolher?
- Iniciante: comece com ETFs internacionais (IVVB11, WRLD11) — é simples e eficiente
- Intermediário: BDRs para empresas específicas que você conhece
- Avançado: conta no exterior para custos menores e acesso total
Custos de investir no exterior
Investir fora do Brasil tem custos extras que você precisa considerar:
- IOF: 0,38% sobre remessas de câmbio (para enviar dinheiro pra fora)
- Spread cambial: diferença entre compra e venda do dólar (varia de 1% a 3%)
- Taxa de corretagem: algumas corretoras no exterior cobram por operação
- Taxa de administração: ETFs e fundos cobram entre 0,2% e 1% ao ano
Exemplo de custo total: se você remeter R$ 10.000 para uma corretora americana, pode pagar cerca de R$ 400 entre IOF, spread e taxas. É importante calcular antes.
Tributação: como funciona o IR
A tributação varia conforme o tipo de investimento:
| Tipo | IR sobre ganho | Isenção? |
|---|---|---|
| BDRs | 15% | Não |
| ETFs internacionais (Brasil) | 15% | Não |
| Fundos internacionais | 15% a 22,5% | Não |
| Ações no exterior (direto) | 15% | Sim, até US$ 35k/mês |
Atenção: você precisa calcular e recolher o DARF você mesmo. Não é descontado na fonte como em investimentos brasileiros.
Quanto alocar no exterior?
Não existe regra única, mas eu costumo recomendar entre 10% e 30% da carteira em ativos internacionais, dependendo do seu perfil:
- Conservador: 5% a 10% — proteção cambial básica
- Moderado: 10% a 20% — diversificação relevante
- Arrojado: 20% a 30% — exposição significativa
Minha recomendação: comece pequeno (5% a 10%) e vá aumentando conforme você ganha experiência e se sente confortável.
Checklist: como começar a investir no exterior
- ✓Defina seu objetivo: proteção cambial, diversificação ou acesso a empresas específicas?
- ✓Escolha a forma: BDRs, ETFs ou conta no exterior?
- ✓Calcule os custos: IOF, spread, taxas — vale a pena?
- ✓Comece pequeno: 5% a 10% da carteira
- ✓Declare no IR: mantenha tudo documentado
Perguntas frequentes
1. Preciso ter muito dinheiro para investir no exterior?
Não. Você pode começar com R$ 500 comprando um ETF internacional como o IVVB11. Para abrir conta no exterior, o ideal é ter pelo menos R$ 10 mil para diluir os custos de remessa.
2. É seguro investir no exterior?
Sim, desde que você use corretoras reguladas. Nos EUA, contas em corretoras têm seguro SIPC (até US$ 500 mil). BDRs e ETFs negociados na B3 seguem a regulação brasileira.
3. Vale a pena investir no exterior com o dólar alto?
Depende do seu objetivo. Se você busca proteção cambial de longo prazo, o momento de entrada importa menos. Se busca ganho cambial de curto prazo, é mais arriscado comprar com dólar alto. Eu recomendo aportes mensais para diluir o preço médio.
Conclusão
Investir no exterior não é mais coisa de rico — hoje, qualquer pessoa pode diversificar internacionalmente com poucos cliques. A questão não é SE você deve investir lá fora, mas QUANTO e COMO.
Minha recomendação: comece simples, com ETFs internacionais (IVVB11 é ótimo para começar), aloque entre 5% e 15% da carteira, e vá aprendendo conforme ganha experiência. Diversificação geográfica é proteção patrimonial inteligente.
Quer montar uma estratégia de diversificação internacional?
Me chama no WhatsApp. Vou te ajudar a entender quanto alocar no exterior, qual a melhor forma para o seu perfil e como declarar corretamente no IR.
Falar com Adriano
Adriano Freire
Financial Advisor
Assessor de Investimentos credenciado pela Ancord, atuando através da Autem Investimentos, escritório parceiro do BTG Pactual.
Meu trabalho é ajudar você a investir com clareza, estratégia e disciplina. Acredito que educação financeira vem primeiro — por isso escrevo de forma direta, sem jargão, e sempre mostrando os dois lados da moeda.

